Greve geral em São Paulo - 28/04/2017
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Relato das manifestações no dia 28 de Abril em São Paulo.
O chamado para Greve Geral no dia 28 de abril de 2017 teve a adesão de sindicatos, movimentos sociais e a sociedade civil. Como pontos passivos entre os diferentes grupos, foram notáveis as críticas às propostas do governo de alteração nas regras da previdência e relações trabalhistas.
Os primeiros relatos de bloqueios pelo país começaram a chegar já na madrugada. Rodovias federais, estaduais, portos, rodoviárias, ruas, escolas entre outros já tinham manifestações e ações iniciadas antes do nascer do Sol e que foram se intensificando ao decorrer da manhã.
No estado de São Paulo, rodovias foram bloqueadas e diversas cidades tiveram travamento de vias. Na cidade de São Paulo os principais travamentos da manhã foram organizados por professores/as, estudantes e movimentos sociais.
O CMI-SP iniciou as coberturas na rua acompanhando a concentração na Praça da Sé do ato anarquista/autônomo partir das 14h, aos poucos diferentes grupos foram chegando: Antifas, indivíduos de coletivos anarquistas, coletivos autonomistas, antiproibicionistas e independentes em geral, e era evidente o diferencial com grande parte dos outros atos da cidade, não havia nenhuma bandeira de partido. Por volta das 15h20 as pessoas começaram a discutir as principais motivações do ato, seu trajeto e objetivo.
Com informações sobre outros atos autônomos que também aconteciam na região central e da Paulista (um ato que acontecia em frente a um Call Center na Rua 7 de Abril e de professores que estavam realizando atividades na Praça dos Arcos - Av. Paulista x Rua Angélica) levantou-se a proposta que mais a frente foi aceita de unificar os atos no trajeto para somar forças e seguir caminho pelo Largo da Batata e depois casa do presidente Temer.
Para iniciar a caminhada um jogral foi lido explicando os motivos desse dia de greve.
O Ato saiu da Praça da Sé por volta das 16h seguindo pela Rua Direita. Ao chegar na Prefeitura, o ato encontrou com uma manifestação que estava concentrada lá. Embora o bloco negro tenha sido “saudado” pelos manifestantes, a voz no microfone não parecia compreender (ou preferiu não reconhecer) algumas diferenças básicas entre os atos, mantendo as falas contra as reformas mas sem críticas ao sistema político.
Seguimos pelo Viaduto do Chá até a Rua Barão de Itapetininga, virando na Rua Conselheiro Crispiniano para chegar na Rua 7 de Abril, como houve muito atraso em sair com o Ato da Praça da Sé, o ato que acontecia na 7 de abril já havia subido a Rua da Consolação.
Seguimos pela Xavier de Toledo para chegar na Rua da Consolação.
O trajeto foi, em sua maioria, tranquilo mas com alguns momentos de questionamento e tensão por conta do trajeto. O relativo pouco policiamento trazia uma sensação estranheza, e lembranças da fatídica terça-feira de Junho de 2013, onde parecia que, a qualquer momento, poderia haver alguma emboscada. A polícia acompanhava a marcha pelo fundo, com algumas viaturas.
A Rua da Consolação estava vazia, sem a circulação de ônibus. A greve definitivamente influenciou na vida da cidade. A impressão era de uma cidade vazia, sem pessoas nas ruas, as poucas pessoas que cruzavam com o ato eram seguranças das empresas por onde passávamos.
Houve uma boa receptividade ao logo do ato, algumas pessoas passavam buzinando em apoio, uns trabalhadores que cuidavam de uma obra no começo da Av. Rebouças pararam para acenar para a manifestação.
Os/as professores/as que estavam na Praça dos Arcos já haviam seguido para o Largo da Batata. Paramos na Rua da Consolação na altura da Rua Maceió para avaliar se seria melhor cortar e seguir pela Rua Augusta para a Av. Paulista, pois haviam informações de que a polícia estava bloqueando a passagem para a Av. Rebouças. Esta informação foi desmentida e o Ato seguiu para a Av. Rebouças.
O Ato seguiu bloqueando todas as vias da Av. Rebouças no sentido do bairro, sendo acompanhado por algumas Rocans da PM que seguiam na faixa de ônibus na contramão e algumas viaturas que estavam no fundo do ato.
Chegamos na Av. Faria Lima por volta das 18h20, seguimos por ela até a concentração da manifestação que tomava o largo da batata, o bloco dos professores/as que estavam na Praça dos Arcos estava logo a frente e a bateria animou quando o bloco negro chegou.
Ficamos na concentração por algum tempo onde indivíduos que já estavam no largo foram somando ao bloco. Depois de um tempo, percebemos que grande parte dos manifestantes já se movimentavam para a caminhada no sentido casa do presidente Temer. Depois de algumas conversas sobre caminhar ainda até a casa do Temer ou não, bandeiras foram erguidas novamente e a movimentação seguiu no fundo da marcha.
O ato seguiu pela Av. Faria Lima com pessoas bloqueando os dois sentidos da via, os bancos e lojas de automóveis da região foram atacados. Algumas poucas pessoas tentavam impedir os ataques, enquanto a maioria aplaudia, era visível a insatisfação geral das pessoas no ato, ações como estas não costumam ser aplaudidas. Na verdade, que me lembre, uma ação assim nunca havia sido aplaudida.
Dentre as inúmeras pichações destaco uma que ficou marcada na porta de um banco: “Limpem com os juros!”
Chegando na Praça Panamerinaca, o Restaurante Senzala teve seu letreiro apagado com pedras, afinal, um restaurante com esse nome absurdo não poderia passar batido. Agora o então presidente talvez tenha que rever suas escolhas de restaurantes para as próximas reuniões. Novamente a recepção da maioria dos manifestantes foi positiva.
Mesmo antes do bloco negro chegar na altura da rua que dá acesso à casa do Temer, foi possível ouvir algumas bombas que estouraram na frente da manifestação. Logo em seguida, princípios de correria no sentido contrário de manifestantes. A polícia atacava a manifestação, um carro de som que estava estacionada na esquina da avenida e a rua de acesso demorou para comentar, mas depois tentou denunciar a violência policial, logo em seguida desistiu e avisou que o/aquele ato havia terminado. A polícia foi avançando com bombas e tiros até a avenida, mas devido à resistência de alguns, não somente o carro de som mas grande parte dos manifestantes já haviam conseguido fugir da chuva de bombas que caia e seguiram de volta para o Largo da Batata.
O blindado israelense usou o canhão de água em algumas pessoas que tentavam fugir das bombas sem saber para onde ir.
Foram pelo menos 15 minutos intensos de bombas naquela região.. A resistência se deu com algumas pessoas e pedras, barricadas com fogo e rojões. A maior parte das pessoas correu no sentido do Largo da Batata para onde, depois de um tempo, também seguiu a polícia com mais bombas e os blindados.
Ficamos para trás da polícia, aguardando a nuvem de gás lacrimogênio baixar para poder seguir sentido Largo da Batata. O caminho de volta para o largo foi demorado pois muitas pessoas estavam passando mal com os efeitos do gás, nas ruas escuras do alto de pinheiros, várias senhoras, alguns fotógrafos, crianças… evidentemente se havia algum grupo de socorristas, não foi suficiente. Tentamos ajudar na medida do possível distribuindo leite de magnésia (que corta os efeitos do gás de forma imediata).
*nota: lembre de levar o seu sempre que houver a possibilidade de repressão e compartilhe
No caminho para o Largo da Batata muitas viaturas passando em alta velocidade, seguindo para dentro do bairro, naquele pique “perseguição do vazio”. Além disso, alguns policiais faziam questão de escrachar manifestantes já dispersando, ameaçando sem motivo nenhum com as armas apontadas e ordenando mudarem de rumo, xingando e gritando… em uma delas, a viatura diminuiu somente para gritar “Vai comunista filho da puta” para um senhor que carregava um cartaz, ilegível pela escuridão, caminhando sozinho pela calçada.
Ouvimos relatos de que a polícia jogou mais bombas no Largo da Batata atingindo as pessoas que estavam em bares na região, e seguiu sentido bairro a procura de manifestantes.