Rio de Janeiro-RJ: Abertura das olimpíadas é marcada por protestos e repressão
Há alguns meses, ativistas de diversos grupos, ideologias e bairros do Rio de Janeiro começaram a construir coletivamente um grande ato unificado. Ato esse que denunciaria todas as mazelas sofridas pela classe trabalhadora em prol da realização dos jogos olímpicos Rio 2016. Após muitas reuniões o ato aconteceu, nesta sexta, dia 5 de agosto, dia da abertura das Olimpíadas no Maracanã.
A concentração começou por volta das 14 horas, na praça Saens Peña, na Tijuca. Manifestantes penduraram faixas expondo os gastos exorbitantes com a realização dos jogos e reclamando da falta de salário dos servidores públicos. Quase 40 bilhões de reais é o gasto estimado. Enquanto isso, milhões de trabalhadores residentes no Rio de Janeiro sofrem com o sucateamento dos serviços públicos e o salário dos funcionários estaduais vêm sendo parcelado.
Camelôs também participaram da passeata, protestando contra a repressão pela Guarda Municipal, as cobranças de subornos para poderem trabalhar e o chamado “choque de ordem” que tem por objetivo remover os ambulantes de lugares turísticos para beneficiarem empresários. A presença de ambulantes nesses lugares, inclusive, impede que os produtos sejam vendidos mais caros pelos estabelecimentos, pois resultariam na perda de concorrência com os camelôs.
As remoções ocorridas no estado por causa das olimpíadas eram uma das principais denúncias da manifestação. O caso Rafael Braga também foi lembrado pelos manifestantes, o rapaz foi homenageado por integrantes da campanha pela liberdade de Rafael Braga. Rafael foi preso em uma grande manifestação de 2013 portando uma garrafa de Pinho Sol e outra de água sanitária e permanece preso até hoje.
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O ato seguiu pela Conde do Bonfim, ganhando apoio de moradores que acompanhavam a passagem da manifestação de suas janelas. Alguns chegaram a jogar papel picado e estender bandeiras vermelhas ou pretas. Um manifestante foi perseguido por PMs e acabou entrando dentro de uma padaria. A tentativa de tirar o rapaz de dentro do estabelecimento foi truculenta e resultou em diversas coisas quebradas.
A intenção dos manifestantes de se aproximarem do Maracanã, onde aconteceu a abertura dos jogos, não foi possível devido ao bloqueio intenso feito pela Policia Militar, então o ato seguiu até a praça Afonso Pena. Durante o trajeto, manifestantes gritavam por saúde, educação, transporte, segurança, pelo fim da PM, entre outras pautas.
Houve a participação de estudantes secundaristas das ocupações de escolas e de professores que estavam em greve por 4 meses devido à falta de pagamento e do sucateamento da educação pública. Os manifestantes atentaram para a hipocrisia do Estado em palavras de ordem como: "Que contradição, tem dinheiro pra Olimpíada mas não tem para educação" e "E no maraca, enquanto a bola rola, não tem saúde, não tem transporte, não tem escola". Conseguiram apoio da população que passava pelas ruas.
Houve forte presença de mídias internacionais, independentes e corporativas. A presença das câmeras inibiu a ação da Polícia Militar, até a parte final do ato. No entanto, na praça Afonso Pena, policiais atacaram a manifestação, que seguia pacifica, com bombas de gás lacrimogênio, sprays de pimenta e cassetetes. Havia crianças brincando no parquinho e idosos sentados na praça, porém isso não impediu que bombas de gás fossem atiradas. Policiais perseguiram manifestantes pelas ruas adjacentes, alguns ficaram encurralados em ruas próximas à praça e a manifestação precisou se dispersar.
Muitas pessoas passaram mal devido ao gás, e foi necessária uma ambulância para levá-los ao hospital. Uma equipe de primeiros socorros prestou ajuda a essas pessoas. Uma menina ficou desacordada por ter recebido uma quantidade muito grande de spray de pimenta no rosto. Segundo socorristas da Cruz Vermelha, a menina perdeu o pulso várias vezes e foi reanimada por massagem cardíaca. Outras duas pessoas também foram gravemente machucadas.
Após a repressão truculenta, alguns manifestantes marcaram de reagrupar próximo ao Maracanã. A polícia fez vários cordões de isolamento nos acessos para o estádio e a passagem só era permitida para quem possuía o ingresso. Alguns manifestantes vaiaram pessoas que iam para o estádio, gritaram palavras de ordem e depois se dispersaram.